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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Uso abusivo de álcool é causa de cerca de 30% de lesões corporais no mundo

Cerca de 30% dos casos de lesões corporais registrados no mundo estão associados ao abuso no consumo de bebidas alcoólicas. Essa proporção é ainda maior quando os traumas são causados por acidentes com veículos, advertiu a consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Álcool dos Estados Unidos, Cheryl Cherpitel. A OMS fez estudo sobre o impacto do consumo de álcool nos acidentes com trauma, contando com a participação de 11 países, entre eles o Brasil.

O Hospital São Paulo, na capital paulista, foi o único participante brasileiro no programa, que treinou os profissionais responsáveis pela pesquisa no pronto-socorro da instituição. A Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) pesquisou, por três meses, 518 pessoas atendidas nesse serviço de urgência e avaliou a dimensão do problema, concluindo que cerca de 13% dos acidentes com vítimas de trauma físico estão associados ao consumo abusivo de álcool. Entre os traumas sofridos há desde contusões e cortes superficiais até casos graves de politraumatismo.

Para Cherpitel, o uso abusivo de bebidas alcoólicas é um problema de saúde pública que afeta populações de diferentes culturas. Nos chamados países secos, que consomem álcool com menos freqüência, mas em maior quantidade, há uma associação maior entre álcool e acidentes com trauma do que em países como Itália e Espanha, onde a população tem o hábito de beber diariamente durante as refeições, informou a consultora da OMS.

Ainda segundo a especialista, leis de trânsito mais rígidas ajudam a diminuir o número de acidentes, pois se uma pessoa é presa por dirigir alcoolizada pode perder a habilitação, passar um tempo na cadeia e ser obrigada a freqüentar um programa específico de tratamento. “Essa legislação surte resultado”, afirmou, observando que nos Estados Unidos as leis são mais duras para essa questão.

Na pesquisa feita pela Unifesp, 66% das vítimas desses acidentes eram homens e 34% mulheres, com média de escolaridade de 5,6 anos e renda de dois a cinco salários mínimos. Outro fato chamou a atenção dos pesquisadores: 11% das vítimas do sexo feminino estavam alcoolizadas. Esse dado foi considerado significativo, já que 4% a 6% das mulheres são dependentes de álcool no país, embora a maioria delas não procure atendimento especializado, disse a psicóloga Neliana Figlie, uma das coordenadoras da pesquisa da OMS no Brasil.

Consumo no Brasil

Os resultados parciais da pesquisa da OMS apontaram, portanto, que, no Brasil, 13% dos acidentes com traumas estão relacionados ao consumo de álcool. Esse percentual é de 18% na África do Sul e de 23% em Belarus (Bielo-Rússia). No entanto, o percentual de vítimas traumatizadas tem aumentado no Brasil. Dados do Ministério da Saúde revelam que a relação entre acidentes com traumas e uso de álcool era de 12,3% em 2005 e de 11,2% em 2001.

Já informações levantadas pela pasta em 2007 deram conta que 37% dos jovens brasileiros admitem voltar de festas e “baladas” dirigindo após consumir bebidas alcoólicas. Esta pesquisa demonstrou ainda que o consumo de álcool no país está cada vez mais banalizado, seja como rito de passagem do adolescente para a vida adulta, seja a partir do estímulo indireto dos pais e familiares, que usam álcool indiscriminadamente na frente dos filhos.

Para agravar ainda mais o problema, a indústria desse tipo de bebida é uma das mais fortes no mercado nacional, segundo dados do Ministério da Saúde. São empresas que detêm parcelas expressivas de verba publicitária aplicadas na mídia, sem qualquer preocupação em relação ao horário e à faixa etária da programação em que seus anúncios serão veiculados.

Em 2006, o investimento em mídia da indústria de bebidas alcoólicas chegou a R$ 907 milhões, conforme dados do ministério. Apenas a Ambev – maior anunciante do segmento - investiu quase metade desse montante (R$ 451,9 milhões).

- Esses números refletem não apenas uma estratégia agressiva de comunicação, mas também uma necessidade de aumentar o volume de vendas – conclui a pesquisa do Ministério da Saúde.

Danos ao cérebro

Estudos sobre a atividade elétrica do cérebro indicam que seu funcionamento pode sofrer danos crônicos pelo uso do álcool, já que a substância compromete as funções superiores do órgão, tais como inteligência, memória, percepção, raciocínio lógico e capacidade de abstração.

Na comparação com o quadro de saúde de dez abstêmios, um levantamento realizado com 32 pacientes entre 30 e 50 anos que bebiam, em média, de um a um litro e meio de aguardente por dia há, no mínimo, 15 anos apontou comprometimento e grandes alterações da chamada área mais nobre do cérebro dos que bebiam.

Integrantes dos dois grupos também foram submetidos a exames psicológicos e psiquiátricos. A psicanalista Ana Maria Baccari Kuhn, colaboradora dessa pesquisa e professora da Unifesp, disse que, dos dez sinais que apontam distúrbios psicológicos, os consumidores de álcool obtiveram sete positivos, observando-se que, com três, já se constata alteração cerebral no indivíduo.

Os pesquisadores da Unifesp dizem ainda que muitos crimes contra a vida e a integridade física das pessoas podem resultar de uma alteração mental causada por lesão nas áreas afetadas pelo álcool. Os efeitos da substância também são percebidos em órgãos como fígado, coração, vasos e estômago. Em caso de suspensão abrupta do consumo dessa bebida, pode ocorrer também a síndrome de abstinência, caracterizada por confusão mental, visões, ansiedade e convulsões.

Abaixo, os principais efeitos físicos e psíquicos do uso do álcool:

Provoca um efeito desinibidor.

Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência chegando-se ao coma alcóolico.

Com o aumento do seu uso, diminui a potência sexual.

O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância.

Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência, caracterizada por confusão mental, visões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões. Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte.

"Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de alucinações, principalmente táteis).

Fonte: